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Bioterrorismo no Cacau Baiano: o Plano do PT e a Lição Sombria para Líderes Empresariais

Aproximadamente 3 milhões de vidas devastadas para minar adversários de poder na rica região cacaueira – um alerta de líderes setoriais: você pode ser o próximo alvo de sabotagem.

Lenah Sakai | The Political Diary | 01 maio 2025 | Atualização: 02 maio 2025.

Amplamente reconhecida por sua gravidade e impacto histórico no Brasil, a crise da vassoura-de-bruxa na lavoura cacaueira da Bahia frequentemente figura entre os temas abordados em exames e debates acadêmicos. No entanto, a narrativa comum, muitas vezes apresentada como um mero revés da natureza ou um azar tremendo, tende a omitir detalhes cruciais das investigações e levantamentos oficiais. Longe de ser um desastre puramente natural, fontes e depoimentos indicam que a doença foi introduzida e disseminada por ação humana deliberada.

É essa perspectiva contrastante que o documentário “O Nó, Ato Humano Deliberado” aborda, desafiando as versões simplificadas da história. A tragédia da vassoura-de-bruxa representou não apenas um imenso crime socioeconômico, impactando milhões de vidas, mas também resultou em um severo dano ambiental para uma região que cultivava o cacau de forma singularmente ecológica. O sistema conhecido como cabruca, uma agrofloresta que permitia a produção do fruto sob a sombra de árvores nativas, preservando a rica biodiversidade da Mata Atlântica, foi devastado. Com a perda das plantações e a falência econômica, a pobreza extrema forçou muitos moradores a recorrer ao desmatamento para garantir a própria sobrevivência, agravando ainda mais o dano ecológico.

A catástrofe que assolou a região cacaueira do sul da Bahia a partir de 1989, com a disseminação avassaladora da doença conhecida como vassoura-de-bruxa, não foi um mero capricho da natureza. Evidências científicas contundentes e depoimentos chocantes apontam para uma introdução e propagação deliberada do fungo Moniliophthora perniciosa. Esta tragédia, que inviabilizou mais de 600 mil hectares e causa repercussões socioeconômicas e ecológicas profundas até hoje, resultou de ato humano intencional.

A doença, originária da Amazônia, teria sido transportada e introduzida na Bahia de forma criminosa. A forma como os primeiros focos surgiram, esparsos e distantes entre si, é considerada altamente improvável de ocorrer por meios naturais, como vento ou chuva. Relatos de ramos infectados encontrados amarrados a pés de cacau sadios em diversas propriedades reforçam a tese da disseminação induzida e deliberada. Técnicos da própria Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão responsável pela proteção da cultura, atestaram em notas técnicas e trabalhos científicos que a propagação não foi natural. Um saco com galhos infectados e um bilhete provocador foi encontrado na sala de um diretor do Cepec (Centro de Pesquisa do Cacau) em Ilhéus.

As investigações e depoimentos colhidos, incluindo na CPI do Cacau e pela Polícia Federal, trouxeram à tona acusações gravíssimas envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT) e membros da própria Ceplac. O administrador de empresas Luiz Henrique Franco Timóteo reafirmou em depoimento à CPI do Cacau as denúncias de que a praga foi disseminada criminosamente por militantes do PT.

Timóteo contou ter participado de uma reunião em Itabuna, em 1987, onde a “cúpula do PT teria planejado a introdução e disseminação” da vassoura-de-bruxa. O objetivo confessado, segundo ele, era “enfraquecer economicamente os produtores de cacau para tomar o poder na região cacaueira“. Ele citou nomes de supostos participantes, incluindo figuras ligadas à Ceplac e ex-prefeito de Itabuna:

  • Geraldo Simões (ex-prefeito de Itabuna)
  • Wellington Duarte (coordenador-geral de apoio operacional da Ceplac)
  • Elieser Corrêa (chefe do Centro de Extensão e Educação da Ceplac)
  • Everaldo Anunciação (ex-coordenador geral de apoio operacional da Ceplac)
  • Jonas Nascimento, conhecido como Jonas Babão (encarregado de assuntos pedagógicos da Ceplac)

Timóteo afirmou ter sido encarregado de trazer material infectado de Rondônia, em mais de uma viagem. A operação interna no partido seria conhecida como “Cruzeiro do Sul”, planejada para disseminar a praga em diferentes pontos da região. Ele chegou a alegar ter recebido dinheiro para deixar o município e evitar testemunhar.

Embora alguns deputados da CPI tenham considerado o depoimento inconsistente por falta de provas documentais, a Polícia Federal concluiu, anos depois, que a introdução e disseminação da doença na Bahia decorreram de ato humano deliberado. Apesar das evidências de crime e confissões, a prescrição foi arguida e ninguém foi indiciado ou punido. A tragédia afetou 93 municípios, aproximadamente 3 milhões de pessoas, causou a ruína de milhares de produtores, levando a perdas de emprego em massa (mais de 200 mil no campo), endividamento, depressão e até suicídios entre os agricultores. A economia regional entrou em colapso, com falências no comércio e aumento da violência e miséria nas periferias das cidades. Aproximadamente 800.000 pessoas deixaram a região.

As tentativas de recuperação da lavoura conduzidas pela Ceplac após a doença foram amplamente criticadas. Pacotes tecnológicos baseados em podas drásticas e enxertia se mostraram ineficientes ou inadequados para o clima da região, resultando em mais prejuízos e endividamento para os produtores que seguiram as orientações. A própria Ceplac admitiu em notas técnicas que o programa não gerou retorno econômico e reconheceu a ineficiência da tecnologia proposta. Mas não isentou os agricultores afetados da dívida que ela mesma gerou a eles.

A história da vassoura-de-bruxa na Bahia é um alerta crucial. A Polícia Federal caracterizou o evento como “ato humano deliberado”, e denúncias e confissões apontaram para uma motivação política: enfraquecer um setor de poder para assumir o controle. Líderes empresariais, setoriais e de poder em qualquer esfera devem estar atentos aos riscos de serem alvos de sabotagem. A experiência dos outrora prósperos cacauicultores, visados por seu poder econômico e político, demonstra que a tomada de poder pode ocorrer por meios devastadores e inesperados, mesmo com o envolvimento de órgãos que deveriam proteger esses setores. A impunidade dos responsáveis neste caso apenas ressalta a vulnerabilidade diante de crimes dessa natureza.

*Post Scriptum: A equipe editorial do The Political Diary identificou, a partir do feedback dos leitores, um considerável desconhecimento acerca dos detalhes investigativos do caso da “Vassoura de Bruxa” na produção cacaueira baiana. Observa-se que poucas mídias de grande alcance, a exemplo da revista Veja, abordaram o tema, mencionando um possível envolvimento de um partido político no ocorrido. Tal situação remete ao tratamento dispensado por parte da grande imprensa ao notório assassinato de Marielle Franco e seu segurança, cuja cobertura teria se atenuado após a emergência de indícios ligando a mesma agremiação partidária entre os responsáveis pelo crime.

Enquanto veículo de comunicação independente, o The Political Diary reitera seu compromisso de noticiar os fatos sem omitir a participação de partidos, políticos ou outras entidades, prática relativamente comum em veículos de maior porte. Soma-se a isso a ocorrência de tentativas, por via extrajudicial, de partidos e políticos em remover notícias de plataformas de busca como o Google, dificultando a acessibilidade da informação. Nesse sentido, o The Political Diary recomenda aos seus leitores que acessem seus conteúdos diretamente por meio do endereço eletrônico oficial: www.thepoliticaldiary.com.

Essa matéria teve como principal fonte o Documentário “O Nó, Ato Humano Deliberado”, que contém depoimentos das famílias afetadas, profissionais que acompanharam o ocorrido e, principalmente, o criminoso confessando o plano e delatando os nomes da quadrilha. Assista aqui antes que tirem do ar:

Outras fontes: Assembleia Legislativa da Bahia, Poder 360.

One Comment

  1. Wagner Marcelo Wagner Marcelo maio 1, 2025

    Muito triste saber disso, desconhecia esse episódio de nossa história.

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