Muita gente dissemina uma narrativa apocalíptica do nosso mundo atual, afirmando que a desigualdade está aumentando e que os pobres estão ficando mais pobres.
Essas pessoas estão completamente desligadas da realidade não só atual como histórica, como mostram claramente os dados. Pra desenvolver mais o que está ilustrado na imagem, copio abaixo o texto impecável do Rodrigo da Silva:
“Se você está lendo esse texto, há uma grande chance de estar vivendo neste momento numa bolha de classe média – com acesso à eletricidade, água potável, internet, moradia, medicamentos, educação e uma fonte suficiente de calorias diárias – perfeitamente capaz de entender cada palavra que escrevo num canto relativamente confortável do planeta em relação aos seus antepassados.
Pode parecer que não, mas 2018 foi um ano incrível. Mais um, aliás.
Você não encontrará essa manchete na primeira página dos principais jornais do mundo, mas nós somos parte da geração mais rica a surgir desde que o primeiro homo sapiens se escondeu numa caverna no interior do Marrocos e o homem de Neandertal ainda vagava por aí.
Essas são as principais notícias do ano que está abandonando o calendário para preencher os livros de história.
- Nós iniciamos 2018 com 616.842.000 pessoas na pobreza extrema ao redor do mundo e encerraremos o ano com 592.695.000 nessa condição. Parece só mais uma estatística aleatória, mas no intervalo de apenas doze meses vimos a parte mais baixa da pirâmide diminuir o equivalente a uma Austrália. Em 1990, quase 4 em cada 10 pessoas no planeta eram miseráveis. Hoje esse número caiu para menos de 1 em cada 10. Ou seja, em apenas 28 anos, mais de 1,25 bilhão de pessoas foram retiradas da pobreza extrema. Quando você terminar de ler esse texto, 250 seres humanos terão saído da miséria em todo o planeta.
- Nesses mesmos doze meses, nós publicamos mais de 2,6 milhões de livros e recebemos 248 milhões de novos usuários de internet (o equivalente a uma Indonésia, o quarto maior país do mundo). Já são 4 bilhões de pessoas conectadas da Cracóvia a Sydney – o dobro do que tínhamos há apenas oito anos. Discutir online pode tentar nos convencer do contrário, mas a humanidade nunca esteve tão bem informada, nem jamais teve tão fácil acesso à informação, como nesse exato instante.
- A cada dia de 2018 a expectativa média de vida da espécie humana aumentou 9,5 horas. Parte significativa disso porque somos mais ricos do que nunca – e podemos contar com o luxo de investir 9% do produto interno bruto global em saúde (e não mais apenas em estocar alimentos para períodos de safras ruins). Em 1950, uma criança brasileira com dez anos tinha a expectativa de viver até os 63. Hoje, alguém com a mesma idade viverá até os 77. Ou seja, nós não estamos apenas vivendo cada vez melhor a cada ano – nós também estamos vivos por mais tempo do que em qualquer outro período da nossa espécie.
- Nem tudo são flores, é verdade. A cada dia de 2018, 15.500 crianças com menos de 5 anos morreram. Mas pense pelo lado positivo: há 50 anos, eram 55.000 mortes a cada 24 horas. Em 1800, mais de 40% das crianças morriam antes de chegar aos 5 anos. Nós conseguimos derrubar esse número para menos de 5% em 2018.
- A cada dia deste ano, 290 mil pessoas ao redor do mundo finalmente ganharam acesso à água potável. São 107 milhões de indivíduos (quase um México inteiro) com acesso à água apropriada para o consumo num intervalo de apenas 12 meses. Em 1990, 1,26 bilhão de pessoas em todo o mundo não podiam contar com esse luxo (1 em cada 5 no planeta). Esse número caiu pela metade em 2018 (menos de 1 em cada 10). Nos últimos 12 meses, 22 milhões de pessoas (mais do que um Chile inteiro) também deixaram de defecar a céu aberto – algo, posso apostar, fora de cogitação para cem por cento das pessoas que leem este texto, mas um luxo inacessível durante 99% do tempo da humanidade.
- Por fim, em 2018, 120 milhões de pessoas (quase um Japão inteiro) passaram a contar com outro grande luxo: acesso à eletricidade. Em 2000, no Quênia, apenas 8% da população podia contar com a possibilidade de ligar uma geladeira na tomada. Esse número saltou para 73% em 2018. Bangladesh tinha 20% de acesso à energia elétrica em 2000. Hoje tem 80%. A evolução é em larga escala. Ao final deste dia, num intervalo de míseras 24 horas, 328 mil pessoas nos farão companhia, recebendo energia elétrica pela primeira vez na vida, iluminando um pouco mais o planeta para quem nos enxerga do espaço. Eis um feito e tanto para quem até bem pouco tempo ainda precisava de velas para guiar na escuridão.
Fonte: Felipe Camozzato
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