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O que existe por trás do grupo “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”?

Uma grande concentração de mulheres se formou no grupo “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” no Facebook, contra a candidatura de Jair Bolsonaro, agora conhecido por “o coiso”. São mais de 3,8 milhões de mulheres de partidos diversos, algumas sem partido e sem candidatos, mas todas na dúvida de como derrotar o candidato à frente das pesquisas da eleição de 2018 à presidência da república do Brasil

O candidato ganhou muita rejeição devido às suas lamentáveis e polêmicas declarações, diminuindo mulheres, negros, gays e outras classes:

“Tenho 4 filhos… o quinto, eu dei uma fraquejada e veio uma mulher.”*

“Prefiro ter um filho morto em acidente do que um filho gay.”*

“Eu não entraria em um avião pilotado por um cotista nem aceitaria ser operado por um médico cotista.”*

“Ô Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu.”*

O grupo

Com tamanha rejeição, as mulheres se uniram e criaram um grupo para juntas se informar, debater, organizar atos contra o candidato que tanto passaram a odiar. Até um partido só de mulheres querem criar. Não que já não exista, mas… Juntas decidiram defender a democracia, respeitar as diferenças, outras opiniões e, de forma organizada, demonstrar repúdio ao candidato odiado, postando “#EleNão” e buscar soluções para um resultado satisfatório nas eleições. A força do grupo se tornou tão grande que até artistas tiveram que se posicionar contra “o coiso” devido à coerção social.

Porém, com o passar das semanas, a forma de organização do grupo e a atitude das participantes mostrou um outro lado que talvez mostre a falta de maturidade para lidar com esse novo ambiente no qual o país resolveu se engajar: a política.

Esse ambiente é novo para muitos, pois o Brasil há muito tempo é fanático por futebol e a política era considerado algo chato demais para se envolver. Já antes da COPA de 2018 a população brasileira percebeu uma queda no apetite pelo futebol. As energias estavam entregues à política, finalmente. O descontentamento com a atual situação do país, o desemprego, a economia, a previdência e os impostos impediram uma animação tão grande pela chegada da COPA. Talvez o ambiente frio do país sede (Rússia) contribuiu com o esfriamento dos ânimos aqui no Brasil, e as acaloradas discussões políticas serviram de consolo e acolhimento.

Porque sim

Estamos vivendo tensas semanas das eleições para presidente do país e quanto mais a data da contagem de votos se aproxima, mais irracionais parecem os “argumentos” proferidos pelas pessoas, seja no grupo das mulheres, seja nas redes sociais, tanto de direita quanto de esquerda.

Constantemente, no gigantesco grupo “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”, são postados relatos sobre eleitores do “coiso” (de direita), que não aceitam nenhum tipo de argumento contra ele ao serem questionados e confrontados. Suas respostas terminavam sempre em “porque sim“. A dúvida que surgiu foi: o que fazer diante dessa intransigência e adoração irracional?

Mas o mesmo ocorreu no grupo das mulheres. Ao serem questionadas sobre suas ideias, ao serem expostas ideias de centro e de direita, mulheres de esquerda, vieram mandar que calasse a boca, que saísse do grupo, acusando de infiltração no grupo… Está ocorrendo uma confusão enorme na cabeça dessas cidadãs “democráticas”, pois o grupo se formou para ser contra “o coiso” e estava aberto para todos que se opusessem a ele. Porém, com o tempo isso se provou falso. Ideias diferentes da esquerda também começaram a ser atacadas e serem tratadas como se fossem proferidas pelo próprio “coiso” dentro do grupo.

As próprias mulheres que estão lutando contra essa adoração ao considerado abominável estão com a mesma postura dos eleitores dessa oposição. Quando questionadas, se irritam e respondem de forma agressiva e intransigente, fechadas ao diálogo e também terminam em “porque sim“. As máscaras começaram a cair e muitas pessoas mostraram que no fundo agem exatamente como os “bolsominions” (eleitores do “coiso”), adorando as ideias da esquerda. São “esquerdaminions”.

Essas pessoas não argumentam mais. Não sabem o que é argumento. Qualquer ideia contrária à esquerda é considerado um ataque. Talvez confundam, achando que qualquer um que não é de esquerda adora o “coiso” que é de direita.

E argumento passou a ser sinônimo de “porque sim“, “porque eu quero”. Ouça bem essas frases. Não é o que as crianças vivem falando? Não é à toa que em programas infantis eles já ensinam desde cedo: “porque sim, não é resposta“, ensinamento do Castelo Rá Tim Bum, famoso programa infantil brasileiro do canal da TV Cultura, considerado, em 2017, o segundo melhor canal televisivos do mundo, devido à sua qualidade de programação. Para quem conhece, vale a pena recordar e quem não conhece, vale a pena conhecer:

Porque sim” é preguiça mental. Argumentar gera esforço mental. Esforço mental é um dos maiores gastos de energia de nosso corpo. Você dizer “porque sim” demonstra sua preguiça de pensar.

Porque sim” é proferido por pessoas que não tem argumento e por intuição, paixão ou algum sentimento maior, como obsessão, apoiam algumas ideias às quais, racionalmente, não sabem o motivo do apoio. Apoiam porque pela emoção as ideias fazem sentido.

O que há por trás

Essas são experiências vividas dentro do grupo de Mulheres Unidas Contra Bolsonaro. Local onde nenhuma postagem que enviei foi aprovada pelas administradoras. Talvez elas não conseguem mais lidar com tantas postagens. Mas, no fim, me bloquearam do grupo, ou seja, fui banida para sempre. A única coisa que eu queria exercitar lá dentro era a minha capacidade de argumentação, principalmente, com pessoas sem essa capacidade, porque é um desafio interessante e, quem sabe, elas poderiam acabar aprendendo os benefícios da argumentação.

Incomodei as pessoas com a minha opinião, fui desrespeitada sem ter sido desrespeitosa com ninguém ou com as regras do grupo e as pessoas de esquerda que perderam o controle e ficaram me perseguindo com postagens insistentes não foram bloqueadas como eu… Veja na imagem uma de minhas participações que não foi deletada:mulheres democracia The Political Diary

Esse banimento sugere aos participantes que opinar é algo ruim e a se temer. Sugere também que talvez as administradoras não entendam como funciona a democracia. As opiniões incomodaram algumas pessoas, geraram desequilíbrio, esforço e desgaste mental. Mas para outras pessoas, que não tinham certeza ainda de seu posicionamento político e estavam abertas ao diálogo, as opiniões geraram debate, argumentação, questionamentos, novas perspectivas, novos horizontes e mudanças de opinião.

Talvez as administradoras já estão de saco cheio de tanto serem hackeadas, ameaçadas, violentadas, que qualquer incômodo no grupo é motivo de expulsão, por puro cansaço. Então esse cansaço da democracia pode ter levado à adoção de soluções simplistas, mais rápidas, que não precisam de esforço mental, como a expulsão, o bloqueamento, o silenciamento, a censura, a proibição de tudo e todos que causem o desequilíbrio do grupo… Tudo pela “ordem”. São soluções bem parecidas com as adotadas na ditadura militar ou por Hitler em busca dessa mesma “ordem”…

Talvez no futuro seja mais eficaz a adoção de robôs, seres incansáveis e dotados de inteligência artificial, que poderão fazer um trabalho, sem descanso, de julgamento muito mais efetivo que nós seres humanos. Eles poderão defender a democracia nos grupos de discussão política, sem bloquear pessoas que estão abertas ao diálogo e querem exercitar o debate de ideias diversas, seja de direita, esquerda ou de centro.

Democracia

A democracia é a capacidade de conviver com o diferente e o contraditório. Tem gente nas redes sociais pedindo para que amigos eleitores do “coiso” desfaçam a amizade. Essa exclusão, esse silenciamento é um distanciamento, uma eliminação das pessoas que não se tolera. Isso é intolerância, é “matar” o que incomoda. Isso é perigoso para a democracia. E, aliás, isso se parece muito com o discurso do próprio “coiso”.

“Tudo aquilo que o homem ignora, não existe para ele. Por isso o universo de cada um se resume no tamanho do seu saber.” (Albert Einstein)

Um grupo que tanto prega a democracia e liberdade de expressão, que luta contra aquele que quer nos calar cedeu ao que tanto lutam. Apoiaram o silenciamento. Só faltou ouvirmos no fundo um coro para as administradoras do grupo: “mitou, mitou, mitou!!! “.

Estou fora do grupo, mas isso não me silencia. Essa é a beleza da democracia unida à internet. Participo de outros grupos de discussão política, posso criar os meus canais. Em um deles, temos como administradores pessoas que apoiam o “coiso”, pessoas de direita, esquerda, centro, e nenhum deles ficam excluindo qualquer um que tenha opinião diferente. Com esse equilíbrio de poder entre os administradores, que possuem diferentes posições ideológicas, possibilita um debate livre, pois quem censura poderá ser censurado. Isso faz com que as pessoas pensem 10 vezes antes de tomar uma atitude extrema e o grupo se torna democrático.

A maior preocupação nesse grupo é manter um ambiente pluri participativo, livre para o debate e o amadurecimento dos membros em suas argumentações. Não apoiamos a baixaria ou o discurso de ódio, porém também não atuamos como professores do primário. Deixamos o ambiente do mundo real assumir, no qual as pessoas devem aprender a criar suas cascas e responder à altura, não dependendo de ninguém para defendê-las. Isso as força a buscar argumentos melhores e a fortalecer seu controle emocional. Quem ficar reclamando que o outro o chamou de “bobo” será obviamente zoado, pois estará agindo como uma criança. Caso alguém perca o controle, nós avisaremos e daremos a chance da pessoa melhorar sua postura para voltar ao debate. Sabemos que muitas vezes as discussões se tornam acaloradas e é fácil levar os assuntos para o lado pessoal. Mas o grupo amadureceu muito e o foco são políticas para melhorar o nosso país, que é algo que todos lá querem, cada qual com sua visão.

Isso é o que não acontece no grupo de “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro”. Ele representa toda uma sociedade encapsulada em suas ideias, amores, paixões, crenças, tradições. Por um lado, é muito bom esse início de engajamento político, por outro, ainda falta MUITO para termos um amadurecimento no debate político de forma saudável, plural e democrático.

Considero uma pena, um grupo com tantas mulheres não desfrutarem dos benefícios da democracia, das opiniões diversas, e dos bons argumentos. Parece que as pessoas querem sempre continuar em suas bolhas e não aguentam mais serem confrontadas.

Como cidadã brasileira não posso deixar de levantar essa questão, principalmente, nesse momento em que os brasileiros resolveram engajar-se politicamente. Espero que este texto possa servir de reflexão para muitos e que as pessoas aprendam a controlar suas emoções, não levando para o pessoal, afinal, eu nem sei quem são as administradoras do grupo, quem são as pessoas com as quais debati e me defendi e quem são os leitores deste texto… kkk. Eu falo de atitudes e não de pessoas. As atitudes nós podemos mudar e melhorar e é com esse intuito, de querer melhorar o ambiente de discussões políticas de nosso país, que escrevo este relato e opinião.

Referência: * Estadão. Imagem: Fotos Públicas.

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