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Pernambucana assassinada na Nicarágua sonhava com ‘futuro brilhante’ na medicina

Ter um futuro brilhante.” Este era o sonho da pernambucana Rayneia Gabrielle Lima, de 30 anos, que foi assassinada na segunda-feira (23), na Nicarágua, onde cursava medicina e fazia o último ano de residência. O assassinato ocorre durante uma crise no país da América Central, com manifestações contra o presidente Daniel Ortega, no poder desde 2007.

“Ela dizia que o futuro dela ia ser brilhante. Era o sonho dela”, afirmou Zélia Maria Lima, que foi professora de Rayneia na quarta série, em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco.

Natural do município, distante 52 quilômetros do Recife, a estudante se mudou para a capital pernambucana em 2010, para trabalhar e estudar enfermagem. Em 2013, ela se casou e foi passar a lua de mel na Nicarágua, onde o sogro morava.

Lá, Rayneia conquistou uma vaga em medicina, em uma universidade de Manágua, capital do país, para onde se mudou com o marido. Mesmo depois de se separar, dois anos depois, ela decidiu permanecer na Nicarágua para terminar os estudos e concluir o sonho de se tornar médica.

A psicóloga Mary Ângela Mendes, de 29 anos, era amiga de Rayneia e lembra da felicidade partilhada entre as amigas, quando receberam a notícia de que ela iria ingressar na tão sonhada graduação.

“As amigas se reuniram, todo mundo ficou muito feliz por ela. A gente ficou triste, porque ela disse que ia ser fora [do país]. Mas ficou alegre pelo fato que era uma oportunidade muito boa para ela”, afirmou a psicóloga.

Este ano, Rayneia estava concluindo o sexto ano de estudo em medicina e último da residência médica. Mas na segunda-feira (23), por volta das 23h30, teve seu sonho interrompido quando o carro que dirigia foi atingido por tiros de metralhadora. Rayneia morreu duas horas depois.

Há quase quatro anos sem ver a filha, a mãe de Rayneia, Maria José da Costa, falava com ela diariamente e compartilhava do sonho da filha. “Ela só botava uma coisa na cabeça: estudo, estudo, estudo. Estudar, terminar a faculdade dela e voltar”, afirma.

Maria José conta que esperava muito pela volta da filha para o Brasil, prevista para 2019. “Sua vida vai ser muito corrida, eu vou ficar em casa tomando conta das suas coisas, da sua casa, e quero terminar minha velhice até morrer, se for possível, nos seus braços”, dizia a mãe para Rayneia. “Mas infelizmente ela foi primeiro do que eu, né?”, lamenta.

Maria José também afirmou que a filha sempre reclamava da falta de segurança na cidade de Manágua. “Ela me dizia sempre que lá estava muito perigoso, que ninguém estava saindo na rua”, na terça-feira (24).

Onda de protestos
Rayneia não participava dos protestos contra o presidente Daniel Ortega na Nicaragua, que começaram há três meses, depois que ele anunciou um aumento nas contribuições para a previdência. Grupos de direitos humanos da Nicarágua afirmam que mais de 350 pessoas já morreram nos conflitos, sendo a maioria estudantes.

Ernesto Medina, reitor da Universidade Americana em Manágua (UAM), onde a jovem estudava, responsabilizou um grupo de paramilitares pelo assassinato da brasileira.

A Polícia Nacional da Nicarágua, no entanto, nega a versão do reitor, e afirma que os tiros foram disparados por um vigilante, em circunstâncias que ainda estão sendo investigadas.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) condenou a trágica morte da estudante e disse que busca esclarecimentos junto ao governo nicaraguense. A embaixadora da Nicarágua no Brasil, Lorena Martínez, foi convocada a dar explicações ao órgão sobre a morte da estudante.

A Nicarágua está imersa na crise mais sangrenta da história do país em tempos de paz e a mais forte desde a década de 80, quando Ortega também foi presidente (1985-1990).

Fonte: G1

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